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Artículo

Contribuição à compreensão da “Era da Informação” no contexto das organizações: um ensaio teórico plural
 

Milton dos Santos

Mestre em Administração
Universidade Anhembi-Morumbi – SP
mdsantos@anhembi.br

Resumo

O desenvolvimento deste ensaio partiu de uma questão aparentemente simples: embora a informação tenha tido um papel fundamental em todos os estágios do desenvolvimento das sociedades, por que somente a era recente recebeu o título de “Era da Informação”? A pesquisa teórica visando a encontrar respostas a esta questão teve que ser necessariamente de caráter plural, uma vez que a abrangência do atual fenômeno da “informação” transcende os limites impostos pelos escopos das chamadas ciências sociais aplicadas. Neste sentido, empreendeu-se um esforço que alcançou desde a Economia até a Filosofia, passando pelas Ciências Sociais, pela Tecnologia e pela Comunicação. O resultado foi a estruturação de uma abordagem que procura contextualizar a atual importância da informação para as organizações a partir de fatores econômicos, filosóficos, sociais e tecnológicos, dentro de uma visão teórica plural, visando contribuir com elementos para o desenvolvimento de abordagens gerenciais mais apropriadas ao atual momento de transformações.


Palabras Clave: informação, Era da Informação, marxismo, ideologia, paradigma tecno-econômico

 

A contribution to comprehension of the 'Information Age'
in the organizational environment: a theoretical essay

Abstract:

This essay started with an apparently simple question: despite the information has had a fundamental role in all stages of the human societies’ development, why only the present Age received the title of "Information Age"? The theoretical research aiming to find answers to this question had to necessarily be of plural scope, once that the range of the current phenomenon of the "information" transcends the limits imposed by the scopes of the called "Empirical Social Sciences". In this way, it undertook an effort that reached since the Economy to the Philosophy, passing through out the Social Sciences, the Technology and the Communication Science. The result was the constructing of an approach that intended contextualize the current importance of the information in organizations, based in economic, philosophical, social and technological factors, inside a plural theoretical vision, aiming contribute with elements for the development of more appropriated managerial approaches to the current transformations.

 


Key-words: information, Information Age, marxism, ideology, tech-economic paradigm

 

 

 

1.- Introdução

O advento da chamada "Era da Informação" caracteriza-se por um conjunto de inúmeras transformações econômicas e sociais com reflexos para as organizações, países e pessoas. A literatura sobre o assunto tem crescido em ritmo intenso nas últimas duas décadas e as principais características desta nova era estão, de modo intenso e mais ou menos explícito, presentes nos ambientes acadêmico e de negócios e também no cotidiano das pessoas (BROWN; DUGUID, 2001: 1-8; WURMAN, 1995: 35-41).

De tão difundidas e reproduzidas, as características dessa nova era, tidas como naturais, tornaram-se verdades irrefutáveis, a ponto de, hoje, muitos trabalhos deixarem de questioná-las, ou mesmo de tentar entender mais profundamente suas origens. Em alguns casos, as conseqüências dessas transformações são tomadas como causas para explicar o que quer que se pretenda. Algumas abordagens assumem, inclusive, a pretensão de ser "novos paradigmas", mas não passam de "verdadeiras panacéias, fórmulas mágicas e jargões sem fundamentação", conforme constatam Moretti e Cardoso (2002: 60).

Da maneira como estão sendo colocadas as coisas, tem-se a impressão de que esse conjunto de transformações que o mundo atravessa atualmente é de tal ordem diferente das transformações observadas em períodos anteriores, que possuiria um caráter de ineditismo descolado da história econômica e social, o que, obviamente, não corresponde à realidade (MATTELART, 2002: 7-9, 174; PATERNOSTRO, 2003; DRUCKER, 1999: 86). Faz-se necessário, portanto, compreender as atuais transformações num contexto mais amplo, para que seja possível a escolha consciente de caminhos a trilhar nos campos conceitual e de pesquisa. Nesse contexto, é importante que se aprofunde a apreensão do que vem a ser a chamada "Era da Informação", suas características e conseqüências para o ambiente atual de negócios.

A principal questão a ser colocada diz respeito à atual importância social e econômica da informação. Embora somente a era recente tenha ganhado o título de "Era da Informação", como mencionado, ela sempre foi um atributo importante. Inteligência e competência humana sempre estiveram no cerne do desenvolvimento econômico em qualquer sociedade, de tal modo que a informação e o conhecimento sempre se constituíram nos sustentáculos dos diferentes modos de produção (CASTELLS, I, 2000: 46; LASTRES; FERRAZ, 1999: 28; KRIPPENDORFF, 1993: 498). Na medida em que a informação sempre foi um recurso importante durante a história, sua importância atual no ambiente de negócios e na sociedade deve, portanto, estar atrelada a algum outro fator ou conjuntura. Compreender tais fatores ou conjunturas torna-se fundamental para a identificação da importância da informação para as organizações e constitui-se no objetivo do presente ensaio.

A busca de referenciais teóricos inseridos no escopo desta pesquisa aponta que os principais trabalhos têm sido realizados em basicamente três campos: social (incluindo o cultural), tecnológico e econômico, sendo que alguns autores concentram-se em um aspecto, enquanto outros procuram estudar as relações entre eles. Marcos intelectuais de diversas origens têm sido utilizados, desde os mais clássicos e ortodoxos até os mais recentes e radicais. Autores como Marx e Schumpeter, na área de economia e tecnologia, Shannon, Weaver e McLuhan, na de informação e comunicação, e Lévy e Morin, na de sociologia e filosofia, para citar apenas alguns, têm sido procurados sistematicamente por todos os pesquisadores como fontes de idéias e apoio para compreensão das atuais transformações.

 

2. A contribuição da teoria de Marx

Uma das grandes fontes teóricas para a compreensão das atuais transformações econômicas e sociais tem sido Karl Marx (1818-1883), principalmente pelo seu livro O capital, cuja contribuição passa pelos conceitos de valor de uso, valor de troca, tempo de produção, tempo de circulação, forças produtivas, instrumentos, máquinas de trabalho e cooperação, entre outros. Vários autores têm recorrido a este referencial conceitual, como Lojkine (1999), Castells (2000), Santos (1983), Dantas (1999), Dowbor (2001) e Cohn (2001).

Marx foi um dos pioneiros a desenvolver uma minuciosa análise do processo capitalista de produção, desmembrando seus componentes físicos, organizacionais e abstratos, particularizando-os em relação ao modus operandi capitalista e interligando-os aos contextos social, histórico, político e tecnológico. A análise profunda e abrangente que Marx fez do capitalismo – embora tenha sido alvo de muitas críticas e contestações, principalmente por seu determinismo econômico e por seu caráter profético – tem se mostrado valiosa para a compreensão do papel da informação no modo de produção capitalista, bem como das raízes do desenvolvimento e do impacto das chamadas Tecnologias da Informação (TIs).

Os estudos baseados em Marx têm sido realizados em duas vertentes. Uma delas vem trabalhando com os conceitos de valor de uso e valor de troca e seus correspondentes tempo de produção e tempo de circulação do capital. Já a segunda vertente prefere os conceitos de forças produtivas, instrumentos, máquinas de trabalho e cooperação. Ambas têm fornecido interessante referencial teórico para compreensão da era da informação.

Segundo Marx (II, 1984: 25-47), o processo de circulação do capital, entendido aqui como o processo do sistema capitalista que tem como objetivo valorizar o capital através da geração de lucro baseada na apropriação de mais-valia, possui três estágios, assim representados:

 

 

O primeiro estágio é aquele em que o dinheiro é transformado em mercadoria (D->M), isto é, em que o capitalista aparece no mercado como comprador e troca seu dinheiro por mercadorias e força de trabalho. Na segunda etapa, as mercadorias adquiridas são submetidas ao processo de produção e expandem seu valor através da incorporação da mais-valia (M ... P ... M’), obtida pela aplicação de trabalho vivo oriundo da força de trabalho. Na terceira fase, o capitalista retorna ao mercado, agora como vendedor, e tenciona trocar suas mercadorias valorizadas por dinheiro (M’->D’). Nesta etapa, o capitalista deseja reaver o capital aplicado no processo, realizando seu lucro, e reiniciar o processo de valorização de seu capital pela compra de novas mercadorias e força de trabalho, que serão novamente submetidas ao processo de produção e de valorização. O primeiro e o terceiro estágios compreendem o chamado processo de circulação do capital, enquanto o segundo abarca o processo de produção.

Para Marx, a valorização do capital ocorre somente no processo de produção, uma vez que se dá pela apropriação da mais-valia criada pelo trabalho vivo aplicado sobre a mercadoria, aplicação que somente ocorre durante o processo de transformação da mercadoria pela força de trabalho. Entretanto, nem todo o tempo gasto no processo de produção agrega mais-valia à mercadoria, uma vez que existem situações durante as quais o trabalho vivo gerador de mais-valia não está atuando, deixando, portanto, de valorizar o capital. Marx (II, 1984: 89-90) identifica três situações em que isso ocorre. Primeiro, quando o capital fica disponível para o processo de produção mas este não está ocorrendo, como acontece quando a fábrica não está funcionando (à noite, por exemplo). O segundo ocorre quando a mercadoria não está sofrendo a aplicação de trabalho vivo, mesmo em processo de produção, como quando das pausas para a realização de transformações químicas e/ou biológicas (fermentação do vinho, crescimento da semente, curtume do couro, galvanização do aço, cura de pinturas e situações afins). Por fim, existem os tempos de espera entre uma fase e outra do processo produtivo, quando a mercadoria fica aguardando a transformação. O tempo gasto nestas circunstâncias, mesmo que necessário ao ciclo de valorização do capital, não lhe agrega valor.

Uma vez que a valorização do capital, segundo Marx, ocorre somente durante o processo de produção, durante os dois estágios do processo de circulação, portanto, "o capital não funciona como capital produtivo e, por isso, não produz mercadoria nem mais-valia" (II, 1984: 91). Assim, do ponto de vista do capital, o processo de circulação, embora necessário para completar o ciclo de valorização do capital, também não contribui para esta, e "quanto mais as metamorfoses de circulação do capital forem apenas ideais, isto é, quanto mais o tempo de circulação for = zero ou se aproximar de zero, tanto mais funciona o capital, tanto maior se torna sua produtividade e autovalorização" (MARX, II, 1984: 91).

A expansão territorial dos mercados nacionais e internacionais por todo o planeta tornou crucial a questão do tempo gasto na circulação das mercadorias, uma vez que, enquanto o capital encontra-se nesta esfera, que não lhe agrega valor, não pode ser utilizado na esfera da produção e, conseqüentemente, deixa de valorizar-se. Marx compreendeu, então, que o capital precisará "anular o espaço por meio do tempo, isto é, reduzir ao mínimo o tempo que requer o movimento de um lugar para outro" apud DANTAS, 1999: 225).

Em relação ao deslocamento espacial das mercadorias, o tempo gasto poderá sempre ser reduzido pelo aumento da eficiência e velocidade dos meios de transporte e pelo aprimoramento de técnicas logísticas e de localização de fábricas e centros de distribuição, embora dificilmente possa ser eliminado totalmente num horizonte de poucas décadas. Mas, por outro lado, o extraordinário incremento das TIs dos últimos anos tem permitido uma real “anulação do espaço por meio do tempo” em diversos aspectos, dos quais aqui serão destacados dois.

Paralelamente aos fluxos físicos de mercadorias, o capitalismo sempre demandou significativos fluxos informacionais. Os recursos tecnológicos e organizacionais à disposição das empresas até antes das TIs não permitiram um ganho de eficiência no tratamento destes últimos fluxos da mesma magnitude do que ocorreu com os primeiros, determinando uma redução da eficiência global do sistema, de suas oportunidades de expansão e de sua rentabilidade. Do ponto de vista externo à organização, os fluxos logísticos tiveram a evolução de sua eficiência obstruída pelos elevados tempos gastos na manipulação e tratamento da informação necessária ao controle e qualidade das etapas de transporte. Neste sentido, as TIs propiciaram a quebra destas barreiras através da interligação das organizações em escala mundial. Recursos como códigos de barras, leitores óticos, esteiras com controle computadorizado etc. permitiram que os fluxos informacionais acompanhassem em tempo real, e até mesmo antecipassem, os fluxos físicos, fazendo que o fator limitador da eficiência retornasse à esfera do deslocamento físico. (Um excelente exemplo de uso intensivo das TIs para maximização de fluxos logísticos é o Centro de Distribuição da Federal Express – Fedex, conforme descrito por Mello [2003]).

Do ponto de vista dos processos informacionais internos à organização, ocorria situação semelhante. É certo que os pioneiros da administração científica – como Taylor, Fayol e Ford – tentaram aumentar a eficiência do trabalho organizacional através do desenvolvimento de técnicas de racionalização do trabalho. Até o advento das TIs, entretanto, as organizações somente podiam contar com a inteligência e destreza humanas (PORTER; MILLAR, 1997: 68), aliadas a rudimentares máquinas de registrar e calcular, para a coleta, tratamento, análise e comunicação das informações necessárias não somente ao controle dos processos físicos e operacionais, mas também para dar suporte à inteligência organizacional e à tomada de decisões.

Esta limitação à eficiência dos processos informacionais tornou-se mais aguda à medida que as transformações nos mercados passaram a exigir (ao mesmo tempo em que a evolução das tecnologias produtivas passou a permitir) maior flexibilidade e personalização de produtos, prenunciando o declínio da chamada produção em massa de cunho fordista. Neste contexto, a efetiva flexibilização e individualização de produtos somente tornaram-se possíveis à medida que as TIs permitiram levar a informação, que os diferencia e personaliza, diretamente ao posto de trabalho, no chão de fábrica. Se as TIs permitiram que os fluxos informacionais se sincronizassem com os físicos fora da empresa, o mesmo passou a ocorrer dentro da empresa, com a eliminação dos chamados "tempos mortos" entre etapas do processo fabril e a redução do ciclo total de produção e de valorização do capital (DANTAS, 1999: 226).

A transformação operada pelas TIs na forma e no conteúdo do trabalho humano informacional nas organizações tem merecido atenção de alguns outros autores que se utilizam do referencial marxista, tais como Lojkine (1999), Castells (2000), Dantas (1999) e Santos (1983). Segundo esta visão, a compreensão da atual importância da informação e das TIs para as organizações, bem como para a economia e a sociedade como um todo, passa pela percepção do desenvolvimento das chamadas forças produtivas, da evolução da relação entre ser humano, ambiente e instrumentos de trabalho.

Em sua análise da interação entre homem e instrumentos de trabalho, Marx (I/2, 1984) identificou dois estágios dentro do capitalismo até então. No primeiro, em que socialmente os trabalhadores passaram a ser aglutinados no interior das fábricas, prevalecia ainda o que o pensador alemão chamou de manufatura. Nesta fase, a mediação entre o homem e o objeto de trabalho (mercadoria em produção) ocorria através da ferramenta manual. Embora neste estágio já prevalecessem os princípios da divisão social do trabalho, essa forma de interação entre o ser humano e o objeto de trabalho mediada pela ferramenta manual em quase nada se diferenciava da que prevaleceu na etapa pré-capitalista do artesanato.

A principal característica desta interação é que para a ferramenta manual a força motriz era fundamentalmente humana, já que tal ferramenta operava como instrumento de trabalho e toda sua força, movimento e sentido eram determinados pela ação do trabalhador, que possuía neste momento elevado grau de determinação do conteúdo e do ritmo do trabalho. Embora coletivo, o trabalho no interior das fábricas durante o estágio da manufatura era determinado, essencialmente, pela vontade individual dos trabalhadores. "Na manufatura", diz Marx, "os trabalhadores precisam, individualmente ou em grupos, executar cada processo parcial específico com sua ferramenta manual. Embora o trabalhador seja adequado ao processo, também o processo é adaptado antes ao trabalhador" (I/2, 1984: 13).

Na etapa seguinte, denominada grande indústria ou simplesmente indústria (em contraposição à idéia de manufatura), a evolução técnica dos instrumentos de trabalho e de outras tecnologias disponíveis permitiu o surgimento da chamada maquinaria. Como princípio técnico, Marx identificou-a como constituída de três elementos: a máquina-motriz, que fornece a força motora; o mecanismo de transmissão, que transfere a força gerada pela máquina-motriz; e a máquina-ferramenta, que se constitui nas antigas ferramentas manuais agora transformadas em ferramentas mecânicas, isto é, movidas por uma força natural não-humana.

Do ponto de vista estritamente funcional, Marx argumenta que a máquina-ferramenta era um mecanismo que executava as mesmas operações que o trabalhador, embora utilizando uma força motriz diferente da humana, o que não lhe muda a essência. Mas a maquinaria permitiu a autonomização da ferramenta em relação à força humana, o que abriu espaço para que todas as etapas do processo de produção passassem a ser executadas pelas máquinas. O antigo princípio da divisão subjetiva do trabalho, atrelada às limitações e capacidades dos trabalhadores, foi suprimido pela produção mecanizada. O processo global de produção passou, então, a ser considerado de modo objetivo e autônomo, analisado em cada uma de suas etapas constituintes, e as questões de execução de cada processo parcial e de combinação desses diversos processos parciais em um processo único maior passaram a ser questões a serem resolvidas pela aplicação de princípios mecânicos, químicos e outros (MARX, I/2, 1984: 13).

Este processo de passagem da ferramenta manual para a maquinaria foi responsável por uma profunda inflexão na evolução da natureza das forças produtivas humanas. Na maquinaria, o meio de trabalho adquire um modo de existência que substitui a força humana por outras forças naturais e a rotina empírica e subjetiva pelo emprego consciente e deliberado da Ciência (SANTOS, 1983: 24-5). Uma vez que a maquinaria executa todos os movimentos necessários ao processo produtivo sem a intervenção humana direta, mas apenas com sua assistência, tem-se um sistema automático objetivo, capaz de ser continuamente aperfeiçoado em seus detalhes.

Na manufatura, a organização e a articulação do processo social de trabalho eram subjetivas, simples combinação de trabalhadores individuais. Na maquinaria, a combinação de processos antes independentes em ciclos globais de produção converte o conjunto de máquinas-ferramenta em um organismo de produção inteiramente objetivo, que os trabalhadores já encontram pronto. O caráter cooperativo e socializado do processo de trabalho torna-se, a partir de então, uma necessidade técnica determinada pela natureza do próprio meio de trabalho (MARX, I/2, 1984: 17). Desta forma, as duas revoluções industriais demonstraram a eficácia do tipo de conhecimento permitido pela Ciência surgida no século XVII. A Ciência e a técnica tornaram-se definitivamente aliadas e provocaram transformações no ambiente de trabalho jamais imaginadas até então (CARDOSO, 1997: 10).

A substituição da força humana por forças naturais, além de alterar a base social do trabalho, mudou também a função, a forma e a organização da intervenção humana no processo de produção, provocando o surgimento de novas funções ligadas à supervisão e à otimização do sistema de máquinas-ferramenta, além de uma nova divisão do trabalho. O grupo articulado de trabalhadores existente na manufatura foi substituído pela conexão entre um trabalhador principal e seus auxiliares. A distinção essencial passou a ser não mais entre o tipo de tarefa especializada de produção que cada trabalhador realizava, mas entre aqueles que efetivamente supervisionavam as máquinas e os simples ajudantes. Ao lado destes, surgiu também um outro tipo de trabalhador, ligado às atividades técnicas de controle e manutenção do funcionamento das máquinas. A subordinação técnica do trabalhador ao processo uniforme de produção com o advento da maquinaria, aliada às características de formação e composição da classe de trabalhadores de então, desenvolveu de maneira irreversível o trabalho de supervisão, acentuando a divisão do trabalho entre trabalhadores manuais e supervisores (MARX, I/2, 1984: 44).

Continuando o raciocínio a partir desta breve explanação sobre as forças produtivas, torna-se necessário agora aprofundar o seu entendimento e fazer uma distinção entre forças produtivas materiais e humanas (LOJKINE, 1999: 74) Como força produtiva material (FPM) entendem-se os instrumentos de trabalho propriamente ditos, externos ao homem, que medeiam a ação humana sobre o objeto de trabalho. Neste caso, a ferramenta manual e a máquina-ferramenta são FPMs. Força produtiva humana (FPH) são os recursos pessoais que o ser humano emprega para a realização do trabalho. Neste caso, a força muscular e o emprego da mão, além da capacidade de supervisão e condução, são FPHs. Existe, evidentemente, uma relação entre aquelas e estas. Assim, à ferramenta manual (FPM) correspondem a força muscular e o emprego da mão (FPHs), ao passo que à máquina-ferramenta (FPM) corresponde a capacidade de supervisão e condução (FPHs).

Segundo Lojkine (1999: 63-4), a chamada "Revolução Informacional" introduziu uma radical mudança na maneira de interação entre o homem e seu instrumento de trabalho – isto é, entre as FPMs e as FPHs – comparável, em suas implicações sociais e econômicas, à própria mudança operada pela máquina-ferramenta na chamada Segunda Revolução Industrial – ou, ainda, pelo próprio surgimento do instrumento, no período neolítico. Para este autor, a ferramenta manual e a máquina-ferramenta constituem-se, ambas, em formas que o ser humano produziu para objetivar o trabalho manual, inicialmente, e depois o trabalho de manipulação de matérias.

 

  1ª Revolução Industrial (manufatura) 2ª Revolução Industrial (grande indústria) Revolução Informacional (organização em rede)
IMPACTOS PARA O TRABALHADOR
FPH* Força física Condução/orientação Interação/abstração
Funções cerebrais Funções concretas Funções concretas Funções abstratas
Intervenção Operações manuais Supervisão e condução Lucidez, concepção de objetivos
Tipo de inteligência Sensório-motora Sensório-motora Abstrata
Comportamento Automático Maquinal Lúcido, consciente
IMPACTOS PARA O PROCESSO DE TRABALHO
FPM** Ferramenta manual Máquina-ferramenta Máquina informacional
Tipo de cooperação Cooperação simples Cooperação organizacional Rede
Resultado do processo Produto Produto/Serviço Informação
Insumo produtivo Materiais Energia Informação
Fonte: o autor. *FPH = Forças Produtivas Humanas **FPM = Forças Produtivas Materiais
Quadro 1 – Impactos das revoluções industriais e informacional

 

Neste enfoque, as TIs inauguram uma nova era na história da humanidade, dado o fato de terem viabilizado, através dos computadores, a objetivação de funções cerebrais superiores, como a abstração e a reflexão, e não mais funções ligadas capacidades motoras e operatórias. Neste contexto, o capitalismo, através das TIs, operou sua terceira revolução, ampliando o seu domínio para aquelas atividades informacionais e abstratas antes dependentes exclusivamente da inteligência dos trabalhadores. Os impactos destas mudanças nas formas de interação entre as FPHs e as FPMs são de diversas ordens, seja em relação à forma de organização do processo de produção, seja em relação à interação do ser humano com este processo. O Quadro 1 procura estruturar estes diversos impactos.

3. Aspectos socioculturais

Em trabalho publicado no Brasil em 2002, A. Matellart propôs-se a uma busca das raízes históricas da sociedade da informação. Para este autor, a sociedade comandada pela informação teve sua gênese no projeto de sociedade inspirada pelo mito do número, projeto este que ganhou forma em torno dos séculos XVII e XVIII através da difusão da matemática como modelo de raciocínio e da ação útil e que constitui, em última instância, a Ciência: "o pensamento do enumerável e do mensurável torna-se o protótipo de todo o discurso verdadeiro ao mesmo tempo em que instaura o horizonte da busca da perfectibilidade das sociedades humanas" (MATELLART, 2002: 11). Um dos principais expoentes desta época foi Gottfried Wilhelm Leibniz (1646-1716), filósofo e matemático alemão. Seus estudos sobre a natureza da lógica contribuíram de maneira fundamental

para a idéia segundo a qual o pensamento pode se manifestar no interior de uma máquina, aproximando-se da automatização da razão pela elaboração de uma aritmética binária e de uma máquina aritmética, um tipo de calculadora mais aperfeiçoada do que a desenvolvida por Blaise Pascal (1623-1662). Para Leibniz, "o pensamento é, portanto, redutível ao cálculo", como afirma Ganascia (1997: 23).

Para que uma seqüência ordenada de operações elementares (ou algoritmo) – extraídas de um repertório finito de operações passíveis de execução num determinado tempo dado – pudesse se converter em um conceito de tratamento automático da informação, como queria Leibniz, foi preciso, entretanto, ocorrer o desenvolvimento da chamada escrita algorítmica, formulada em 1854 por George Boole (1815-1864), que visava a formalizar matematicamente, através de um cálculo simples, as regras do raciocínio lógico, e que permitiu a constituição da informação como uma disciplina independente um século depois.

O trabalho desenvolvido por Leibniz tinha, entretanto, motivações tanto práticas quanto filosóficas. Por um lado, a busca de métodos de cálculo mais rápidos objetivava responder às crescentes exigências de formação e expansão do capitalismo moderno. De fato, com a rápida expansão mundial do comércio e das atividades manufatureiras, surgia uma grande necessidade social e econômica de arquivamento, tratamento e disseminação de dados destinados aos negociantes, banqueiros, especuladores e governos.

Do ponto de vista filosófico, o projeto leibniziano de automação do raciocínio insere-se na busca por uma linguagem universal. O desejo de Leibniz era o de contribuir para a aproximação dos povos, para a unificação não apenas da Europa, mas da humanidade inteira. Ao expor o mecanismo binário que inventou e que permite reduzir os números a princípios elementares (0 e 1), ele traça um paralelo deste sistema com um outro, combinatório, existente na China há mais de quatro mil anos, com o propósito de justificar sua tese segundo a qual somente uma linguagem de símbolos é capaz de superar a imperfeição e as limitações das linguagens naturais, fontes de discórdias e obstáculos à comunicação (MATTELART, 2002: 16). Tem-se em Leibniz, deste modo, um dos pioneiros e o mais forte expoente da linguagem computacional que irá transformar a sociedade três séculos depois dele.

A partir deste contexto histórico e do referencial da teoria marxista, alguns autores contemporâneos têm realizado leituras dos impactos sociais, culturais e ideológicos do atual estágio de desenvolvimento do modo capitalista de produção. Com isso, oferecem importantes insights e caminhos conceituais para a ampliação da compreensão das transformações, principalmente no que tange à importância da informação nos dias de hoje.

Para Dowbor (2001), a linguagem binária de zeros e uns preconizada por Leibniz, que permite a expressão de todo o universo da comunicação (desde letras e cores até uma sinfonia ou filme de longa metragem), ou toda a memória acumulada e registrada da humanidade, aliada ao desenvolvimento tecnológico, permitiu manipular estes sinais em movimentos de nível atômico, causando uma revolução no formato do conhecimento, que deixou de ser uma matéria para se tornar um "fluido" de maleabilidade ilimitada. Deste modo, "todo o acervo de conhecimento da humanidade passou para uma base que é, para todos os efeitos práticos, infinitamente pequena, e que se desloca na velocidade da luz" (DOWBOR, 2001: 48).

Por outro lado, Dowbor se propõe em seu trabalho a explorar os tipos de relações sociais e de produção que emergem desta revolução tecnológica e que caracterizam uma sociedade do conhecimento, de acordo com a teoria marxista do valor. "Que estrutura política e que relações de produção estarão implícitas nas sociedades onde o fator-chave passa a ser o conhecimento?", indaga o autor (2001: 49). Para ele, a resposta a esta pergunta depende da capacidade com que as novas elites capitalistas mundiais conseguirão absorver as dinâmicas emergentes para seu proveito. Neste caso, Dowbor chama a atenção para o termo "novas elites", identificando tratar-se de elites que manipulam não mais propriedades materiais, mas símbolos e imagens, uma vez que "quem controla as representações simbólicas da riqueza é que passa a manejar o sistema, e não quem a produz" (2001: 50).

A argumentação do autor segue de maneira contundente no sentido de demonstrar o deslocamento da base de sustentação da geração de riqueza econômica do âmbito material para o cultural, de manipulação dos signos. Segundo ele, os maiores lucros passam a ser gerados a partir da associação de valores e da criação de identidades através de técnicas de associação de signos repetidas ao infinito. Assim, alega, o fetichismo deixa de ser o complemento e passa a ser o fator central de valor de troca, isto é, de lucros, e o que se processa no momento das trocas econômicas é uma mediação manipuladora entre os valores de uso (a utilidade real de uma mercadoria) e os valores de troca (a opção de trocar o próprio dinheiro pela mercadoria que se deseja). Klein (apud GONÇALO JR., 2002: 3) complementa essa idéia ao analisar por que, na economia globalizada, a chave do sucesso estaria em criar, estabelecer e gerenciar imagens e percepções por meio das quais o consumidor se relacionaria com um produto ou empresa. As marcas, diz Klein, não vendem mais mercadorias, mas uma idéia, um estilo.

Note-se que a compreensão das mercadorias como signos de representação social não é novidade. Serralvo aborda a questão da influência das marcas (das mercadorias) na formação cultural dos usos e costumes. Para este autor, "o produto (...) assume a figura da composição estética e cultural do uso, constituindo-se nos meios de diferenciação e identificação do indivíduo na sociedade" (SERRALVO, 1999: 118). De sua parte, ainda na mesma linha de raciocínio, Dantas, abordando a questão da produção de signos na fase atual do capitalismo, afirma que grande parte dessa produção é artificialmente orientada pelos interesses da acumulação capitalista, através da indústria cultural e de toda a restante produção material simbólica típica das corporações-rede (marcas que simbolizam "estilos" de vestir, de comer, de morar, de se mover etc.) (grifos e aspas no original) (1999: 253).

O elemento cultural, desse modo, deixa de ser superestrutural e torna-se o processo principal da reprodução econômica, o lugar privilegiado de geração de riqueza, em que, através de um mecanismo poderoso de manipulação de valores, obtém não só mais-valia, como também um lucro extraordinário, algo que Dowbor chama de "mais-valia virtual" (2001: 51-3).

O texto a seguir é rico e muito significativo para a ilustração do fenômeno cultural referido acima:

O Bezerro de Ouro

Não muito longe da basílica onde se encontravam os monumentos funerários dos antigos reis da França, em Saint-Denis, ocorre a cada dois anos uma manifestação consagrada às artes digitais: Artífices.

Em Novembro de 1996, o principal artista convidado era Jeffrey Shaw, pioneiro das artes do virtual e diretor, na Alemanha, de um importante instituto destinado à criação de "novas mídias".

Ao entrar na exposição, a primeira coisa que você veria seria a instalação "Bezerro de Ouro". No meio da primeira sala, um pedestal claramente feito para receber uma estátua não sustenta nada além do vazio. A estátua está ausente. Uma tela plana se encontra sobre uma mesa ao lado do pedestal. Ao pegá-la, você descobre que esta tela de cristal líquido comporta-se como uma "janela" para a sala: ao direcioná-la para as paredes ou teto, você vê uma imagem digital das paredes ou do teto. Ao apontá-la para a porta de entrada, aparece um modelo digital da porta. E quando a tela é virada na direção do pedestal, você é surpreendido por uma maravilhosa estátua, brilhante, magnificamente esculpida, do bezerro de ouro, o qual só "existe" virtualmente. Ao andar em volta do pedestal, mantendo a tela direcionada para o vazio acima dele, é possível admirar todos os ângulos do bezerro de ouro. (...) Se você levar a tela bem para cima do pedestal, entrará dentro do bezerro de ouro e descobrirá seu segredo: o interior é vazio. Só existe enquanto aparência, sobre a face externa, sem reverso, sem interioridade.

Qual o propósito desta instalação? Em primeiro lugar, é crítica: o virtual é o novo bezerro de ouro, o novo ídolo de nossos tempos. Mas também é clássica, pois a obra nos traz a percepção concreta da natureza de todos os ídolos: uma entidade que não está realmente presente, uma aparência sem consistência, sem interioridade. Aqui, o que se busca não é tanto a ausência de plenitude material, e sim o vazio de presença e de interioridade viva, subjetiva. O ídolo não tem existência por si mesmo, somente a que lhe é atribuída por seus adoradores. A relação com o ídolo é gerada pelo próprio dispositivo da instalação, uma vez que o bezerro de ouro só aparece graças à atividade do visitante. (LÉVY, 1999: 45-6)

Em grande medida, a idéia que Dowbor sugere de manipulação cultural de signos pela nova elite mundial capitalista, em prol do aumento dos ganhos econômicos, provoca o surgimento de "bezerros de ouro" sociais contemporâneos, os quais as pessoas passam a idolatrar de modo inconsciente e manipulado.

O que se pretende realçar nesta questão é o atual uso ideológico e manipulatório que as transformações sociais, econômicas e tecnológicas têm permitido imprimir ao consumo de produtos e serviços. Em um trabalho sobre informação, linguagem e comunicação, Pignatari (2003) analisa a questão da manipulação dos signos pela chamada burguesia (que, neste contexto, equivale às elites mencionadas por Dowbor), com o propósito de manutenção de status e privilégios de classe. Segundo ele, é através de um processo de consumo social determinado por estruturas de classes hierarquizadas por força da divisão do trabalho que as coisas (mercadorias) transformam-se em signos e os signos se transformam em coisas. Neste sentido, ainda segundo o autor, é importante observar de que maneira as mercadorias, como objetos dotados de utilidade, passam a se organizar em forma de linguagem, em verdadeiros sistemas de signos de consumo, com duração relativamente curta e articulados em um ritmo próprio à sociedade de consumo, que é o ritmo da moda (PIGNATARI, 2003: 86-7).

Completando seu raciocínio, Pignatari afirma que “é consumindo, deglutindo, canibalizando um repertório mais alto – a informação é o principal bem de consumo de nosso tempo – que a burguesia forja e amplia o seu repertório” (2003: 87). Castells (I, 2000: 35-6) afirma, por seu turno, que os modos de desenvolvimento que o capitalismo vai estruturando em sua jornada modelam toda a esfera de comportamento social, incluindo a comunicação simbólica. Nesta perspectiva, na medida em que o capitalismo informacional baseia-se na tecnologia para a geração e circulação de informações e conhecimentos, ocorre uma profunda ligação entre a cultura e as forças produtivas sociais e entre “o espírito e a matéria”.

A Figura 1 procura ilustrar, de modo simplificado, o ponto aqui exposto, utilizando o referencial marxista de valor para inclusão do valor de troca e de uso dos signos.

 

Fonte: elaboração do autor.

Figura 1 - Mais-valia no capitalismo industrial e no capitalismo informacional

 

Uma outra visão deste processo sociocultural, e que complementa a visão anterior, é fornecida por Cohn (2001). Partindo da imagem aristotélica da informação como "imposição de forma", o autor amplia esta idéia, acrescentando que esta imposição ocorre como "sobredeterminação" e que "a sociedade da informação é (tendencialmente) aquela cuja forma é sobredeterminada pela informação" (COHN, 2001: 21).

O sentido dado pelo autor a esta "sobredeterminação" é profundo. O primeiro ponto levantado, que contraria o entendimento tradicional do assunto, é que, do seu ponto de vista, a informação é distinta da comunicação e não está subordinada a ela como um de seus componentes. Propõe a idéia de que a informação e a comunicação não compartilham do mesmo plano da "circulação" dos significados, mas estão em níveis distintos. Neste sentido, segundo o autor, enquanto a comunicação refere-se a conteúdos e à sua circulação, a informação diz respeito ao modo como estes conteúdos entram na comunicação e na circulação. Assim, enquanto a comunicação relaciona-se à "transmissão" de conteúdos, a informação reporta-se à sua "seleção", isto é, ao julgamento do que terá valor significativo e que, com base nessa avaliação, irá integrar os conteúdos que serão comunicados.

Este raciocínio compreende a informação como atuante na esfera da produção dos conteúdos, e não na da circulação. Por conseguinte, confere à informação um caráter de produto resultante da ação humana, em detrimento da visão tradicional, que somente a vê no âmbito da circulação.

Da perspectiva da teoria marxista do valor, esta concepção da informação tem conseqüências profundas. Quando se retira a informação da esfera da circulação, na qual ocorre a interação entre valores de troca – isto é, redutíveis à sua permutabilidade, à sua similaridade e equivalência – e se a situa na esfera da produção, remete-se sua análise a outra lógica, a de valor de uso, ou seja, relacionada à sua diferença e distinção. Dentro dessa nova ótica de compreensão da informação no modo capitalista de produção, a informação passa a contribuir decisivamente na modelagem do próprio sistema. Esta ocorre pela existência dos processos de informação no cerne das atividades produtivas e pela capacidade própria da informação de resistir à sua plena realização como valor de troca, dada a corrosão que provoca no princípio da permutabilidade. Esta, por sua vez, se passa devido à introdução no funcionamento do sistema da versão extrema da equivalência, que é a indiferença. Desse modo, tudo o que está fora do sistema deixa de ter valor, deixa de ser relevante.

Nesta ótica, também o sistema deixa de ser um sistema de objetos e passa a ser pleno de significados (COHN, 2001: 22-3).

Por esta perspectiva, a relação entre informação e comunicação muda radicalmente. A informação passa ser vista pela sua maneira de operar, comandada pelo critério da seleção entre alternativas, expressa pela disjuntiva "ou", no sentido de exclusão/inclusão. Isto contrasta com a comunicação que, por seu lado, é um processo de adição, de conexões, comandado pela aditiva "e". Enquanto a informação é um processo seletivo, destinado a excluir o que não é significante, a comunicação é um processo expansivo, destinado à inclusão de elementos significativos. A ilustração esquemática dessa relação encontra-se na Figura 2.

 

Fonte: elaboração do autor, a partir de Cohn (2001).
Figura 2 – Processos de informação e de comunicação

 

Em uma sociedade de classes, como a capitalista, é necessário que se introduza a questão da ideologia neste enfoque de “sobredeterminação” do sistema apontado por Cohn. Neste caso, a ideologia da classe dominante introduz um viés importante na perspectiva aristotélica da informação como imposição de forma. Para Pignatari, “o processo pelo qual a elite julga levar cultura às massas implica uma triagem da informação, e esta pré-seleção envolve, em maior ou menor grau, uma orientação ideológica, ou uma preferência ideológica” (2003: 90-1). Dentro desta perspectiva, a imposição de forma ocorre como a conformação de uma matéria, como imposição de traços reconhecíveis a algo que antes não tinha forma própria ou definida, num contexto ideológico. Neste sentido, a imposição de forma caracteriza-se como a produção de um conteúdo novo, ideologicamente influenciado, ao estabelecer relações significativas, perenes e não aleatórias entre os elementos que se encontram dispersos em um objeto sem forma.

Na perspectiva ideológica da sociedade capitalista, a imposição de forma foge ao sentido aristotélico, pois não se trata de imprimir uma ordem a um conteúdo, mas algo mais radical e maniqueísta: a abstração completa de todo conteúdo. O esforço de impor uma forma a um objeto, isto é, de gerar informação, leva em consideração, ainda que não explicitamente, diversos outros elementos alheios à lógica capitalista da produção e da circulação de mercadorias. Neste sentido, a imposição de forma caracteriza-se por traçar uma diferença, através da divisão de um aspecto qualquer em dois campos, separados por uma linha que permite desprezar tudo o que está de um lado e considerar somente o que está do outro lado. Assim, a informação surge como um ato de segregação, como a criação de uma diferença entre o que deve merecer atenção e todo o resto, que se torna irrelevante.

A informação deixa de se confundir, desse modo, com o objeto a observar e conhecer, e passa a se referir estritamente à diferença que gerou a forma. Nestes termos, a informação passa a não transmitir mais conteúdos, mas a criar o quadro de referência no qual é possível considerar conteúdos. Antes de se olhar para os conteúdos e significados, deve-se procurar o pano de fundo do recorte da diferença. Deste modo, a própria diferença ganha autonomia, dispensando qualquer referência a conteúdos a serem ordenados. O importante passa a ser a capacidade de recortar o mundo e de estabelecer a diferença entre o que é importante e o que é indiferente; a comunicação opera, então, no interior dos recortes determinados pela informação (COHN, 2001: 23-4).

Concluindo o raciocínio desenvolvido pelo autor, a sociedade de consumo caracteriza-se como uma sociedade baseada na esfera da comunicação, em que prevalecem as relações de troca, isto é, da permutabilidade, da equivalência e da similaridade. Já a sociedade da informação baseia-se na esfera da produção, na qual prevalecem as relações de criação de valor, de diferenciação e de distinção. Tais relações são "sobredeterminadas" pela informação, isto é, pela delimitação da diferença.

Embora o aspecto ideológico de manipulação social da informação pelas elites dominantes seja algo reconhecido e tratado por diversos autores influentes – além dos já mencionados, poderiam ser citados aqui mais de uma dezena de outros –, a complexidade atual das transformações e da própria dinâmica social faz com que este tipo de visão em certa medida empobreça a análise e se torne por demais maniqueísta, subtraindo aspectos importantes, caso não seja complementada com outros tipos de enfoque. Vários autores, mesmo quando usam o referencial marxista, têm adotado posturas mais plurais e apresentado análises e considerações em outros aspectos que não só o ideológico, como nos trabalhos de Castells (I, 2000), Lojkine (1999), Roszak (1988) e Krippendorff (1993), entre outros.

Na maioria dos casos, as abordagens de cunho ideológico pressupõem um certo determinismo econômico e social oriundo da existência de uma luta de classes entre, por um lado, aqueles que detém o controle dos meios de produção e, por outro, aqueles que estão a eles sujeitos. Em grande medida, este tipo de determinismo tem suas origens na própria epistemologia marxista, fortemente marcada pelo determinismo econômico de cunho dialético, cuja evolução ocorre com base nos movimentos de afirmação, negação e superação (tese, antítese e síntese) através de relações binárias, como capitalistas versus trabalhadores, tese versus antítese e seu resultado versus síntese (KRIPPENDORFF, 1993: 509-11).

Castells (I, 2000) procura mostrar, em sua exaustiva análise sobre a "Era da Informação", que existem diversos outros atores e fatores que interferem e até determinam o curso das transformações sociais que ocorrem atualmente, como, entre outras coisas, o movimento de busca pelas pessoas da própria identidade em um mundo fragmentado, o relacionamento das atuais transformações tecnológicas com a "cultura de liberdade, inovação individual e iniciativa empreendedora oriunda da cultura dos campi norte-americanos da década de 60", ou mesmo a organização social em processos estruturados por relações historicamente determinadas ligadas à ação dos seres humanos sobre si mesmos (experiência) e que, em determinadas condições, sujeitam a vontade de uns sobre a vontade de outros (poder). Roszak (1988), nesta mesma linha de múltiplas determinações das transformações atuais, caminha em outro sentido, analisando o período de surgimento da base tecnológica que deu origem à "revolução da informação" (décadas de 1960 e 1970, nos EUA) como um período marcado por uma contracultura, onde o microcomputador passou a simbolizar a ferramenta de liberdade individual e social. "Nas mãos deles [os hackers daquela época] a tecnologia da informação se tornaria mais próxima de um instrumento da política democrática" ilustra o autor (ROSZAK, 1988: 209).

Em um artigo escrito no final de 1983, Krippendorff (1993) se propõe a uma análise crítica da sociedade da informação à luz da teoria marxista. Diferentemente de outros autores que se propõem a uma crítica da teoria marxista utilizando referenciais teóricos externos, Krippendorff analisa em profundidade os fundamentos da teoria de Marx e, através de idéias e conceitos complementares, procura demonstrar em que pontos aquela abordagem se mostra pertinente e em que pontos ela se mostra incompleta ou até equivocada. No que se refere ao objetivo do presente ensaio, serão destacadas duas idéias do trabalho deste autor que contribuem de modo significativo para a compreensão das características das atuais transformações e ampliam a dinâmica social para além da visão ideológica.

Segundo Krippendorff, a dialética marxista opera de tal modo que o desenvolvimento da dinâmica da luta de classes da sociedade capitalista amplifica suas contradições e torna o ideal de igualdade como sendo de fato um equilíbrio instável e não a regra do sistema, com "os ricos tornando-se cada vez mais ricos e os pobres cada vez mais pobres". Desse modo, para Marx, a sucumbência deste modo de produção tornar-se-ia inevitável. Este tipo de dinâmica que continuamente amplifica as desigualdades de um sistema tornou-se conhecido posteriormente a Marx como sendo o processo de feedback de um sistema, neste caso um feedback positivo.

A não sucumbência do sistema capitalista no Ocidente, ao contrário, seu crescimento e expansão no último século, demonstrou a existência de forças contrárias àquele feedback positivo que contribuem para reduzir as desigualdades do sistema e aumentar sua capacidade de adaptação e sobrevivência, evitando assim a ocorrência de seu colapso. Com isso, o aparente determinismo do sistema rumo ao seu colapso é limitado e evitado. Este conjunto de forças que atuam de modo a aliviar as tensões e contradições de um sistema tornou-se conhecido como feedback negativo. Segundo Krippendorff, as forças que atuam como feedback negativo são originárias de fora do sistema que alimenta o feedback positivo, tornando este sistema aberto e vulnerável ao exterior, diferente do que pressupunha Marx como sendo o sistema um sistema fechado, cujas determinações encontram-se em suas próprias características constitutivas (KRIPPENDORFF, 1993: 512).

Os feedbacks positivo e negativo são características de todo tipo de sistema. Raciocinando em termos do papel da informação nos sistemas, temos que, por exemplo, a informação gerada pela execução de um processo de trabalho que é absorvida pelo trabalhador que o executa e é utilizada por ele mesmo de forma não compartilhada para aprimorar seu próprio processo de trabalho e torná-lo mais eficiente, passa a constituir-se em um feedback negativo na medida em que contribui para a criação de um estado de equilíbrio do sistema. Por outro lado, quando a informação é compartilhada com outros e retorna ao sistema de modo renovado, esta informação passa a constituir-se em um feedback positivo, uma vez que contribui para a modificação do processo, gerando um estado de desequilíbrio no sistema.

Transportando este raciocínio para a sociedade atual, tem-se que este processo de feedback positivo seja provavelmente o mais notável aspecto processual existente na base da sociedade da informação, uma vez que este processo permite que a sociedade utilize suas habilidades para organizar sua própria organização (KRIPPENDORFF, 1993: 513). Em outras palavras, os recursos de informação que a sociedade está desenvolvendo são de tal ordem que passam a atuar não só sobre os objetos desta sociedade, mas sobre a própria forma de gerar os recursos de informação. A informação, do ponto de vista social, é um recurso que possui a capacidade de atuar sobre si próprio, diferentemente de outros recursos desenvolvidos até então. Este autor cita como exemplos computadores que atuam na criação de novos computadores e informações que atuam na criação de novas informações (KRIPPENDORFF, 1993: 513-4). Ele também chama a atenção, neste caso, para o fato de que este tipo de dinâmica encontra-se em sintonia com o modo de produção capitalista, uma vez que contribui para acentuar as desigualdades. Deste modo, quem é rico em informação torna-se mais rico ainda pelo acesso que tem aos recursos de informação; quem tem acesso à educação se torna mais avançado ainda em educação pelo acesso que tem aos recursos educacionais; empresas que dominam a informação e a tecnologia da informação tornam-se mais poderosas e podem ter acesso a recursos maiores ainda.

A segunda idéia chama a atenção para um paradoxo do determinismo em face de uma sociedade da informação. Segundo Krippendorff, "there is an inherent paradox in trying to predict the inevitable outcome of a process that involves people who have information about that process and about their involvement in it" (1993: 515). Segundo o autor, para que Marx pudesse ter assumido o determinismo econômico e social ele teve que assumir que as pessoas não possuem, e nem possuiriam, informação sobre este sistema, no sentido de que não seriam capazes de reorganizar sua própria situação nele, e, com isso, alterar o curso da própria história.

Ocorre que, quando os indivíduos possuem informação sobre alguma coisa, podem tomar partido no trabalho organizacional no sentido de encaminhar uma mudança sobre esta mesma coisa. Nesta situação, deve haver motivos muito fortes para que não se faça uso de uma informação que se possui. Independente de quais sejam as razões para eventualmente não se fazer uso de uma informação que se possui, o fato é que a simples posse da informação introduz mudanças no relacionamento entre os sujeitos e suas realidades:

Whatever the case may be [for do not use information], the possession of relevant information characterises the ability to change and the possibility to exert one’s will, thereby making the process affected by it to that extent unpredictable. Thus, when people do have information about a process involving them, the process can no longer be described in deterministic terms and is to some extent unpredictable (KRIPPENDORFF, 1993: 515).

Deste modo, é a disponibilidade de informações que determina as possibilidades de ação. A emergência da sociedade da informação caracteriza-se, assim, como a emergência de um novo tipo de determinismo que disponibiliza mais opções do que restrições ao desenvolvimento social, tornando-se adequado afirmar que a sociedade da informação essencialmente cria suas próprias possibilidades de futuro, que estão primariamente limitadas pela capacidade de lidar com estas possibilidades e secundariamente limitadas pela sua história material que, em Marx, tem sentido oposto, determinando as demais relações sociais (KRIPPENDORFF, 1993: 516-7).

3. Paradigma Tecno-Econômico (PTE)

As questões ligadas à importância do conhecimento e da inovação como fatores de desenvolvimento econômico têm sido tratadas por uma corrente econômica chamada escola neo-schumpeteriana. O interesse recente pelas idéias do economista austríaco Joseph Alois Schumpeter (1883-1950) cresceu principalmente após a recessão das décadas de 1970 e 1980, uma vez que, após o período de grande expansão econômica que se seguiu ao pós-guerra, o hegemônico pensamento keynesiano começou a demonstrar dificuldades para explicar e contornar a queda dos níveis de atividade econômica e os elevados índices de desemprego. A associação desta recessão com a ocorrida nos anos 1930 levou a um aumento no interesse pelas teorias dos longos ciclos econômicos, como a desenvolvida por Schumpeter (FREEMAN; PEREZ, 1988: 38).

De maneira oposta às escolas econômicas tradicionais, que consideravam os fatores técnicos e institucionais como residuais ou exógenos ao desenvolvimento econômico (FREEMAN, 1988: 2), a escola neo-schumpeteriana aponta para a importância econômica da geração e difusão de novos conhecimentos no sistema produtivo. Segundo os autores desta escola, este é o processo que conduz ao surgimento das inovações como fatores-chave para o crescimento e desenvolvimento econômicos. Nessa linha de raciocínio, esses autores têm oferecido particular subsídio para o entendimento da importância que a inovação e suas bases de conhecimento têm na configuração das transformações econômicas e sociais atuais (LASTRES; FERRAZ, 1999: 31).

Uma das contribuições mais significativas e esclarecedoras das transformações estruturais por que passam periodicamente as sociedades – dentro dos esforços dessa escola de pensamento para explicar as diferentes dinâmicas e padrões de geração, uso e difusão de tecnologias e outras inovações associadas – é o conceito de Paradigma Tecno-Econômico – PTE (FREEMAN; PEREZ, 1988: 47; CASTELLS, I, 2000: 78).

O PTE é entendido como o processo de evolução de uma série de combinações inter-relacionadas, possíveis e viáveis de produtos e processos, inovações técnicas, organizacionais e institucionais, que resultam em saltos de produtividade e em transformações generalizadas de ordem econômica. Estas são de tal magnitude que influenciam o comportamento econômico de modo profundo, com reflexos nos arranjos sociais e institucionais, e que inauguram uma nova onda de oportunidades de investimento e geração de lucros pela economia como um todo. Cada novo PTE encerra em si uma única combinação de decisivas vantagens tecnológicas e econômicas. O conjunto das inovações que se encontra no centro de cada PTE baseia-se em um recurso ou conjunto de recursos, designados fatores-chave, que possuem como características: i) amplas possibilidades de aplicação econômica; ii) demanda crescente; e iii) queda persistente do seu custo unitário (LASTRES; FERRAZ, 1999: 32).

O conjunto de fatores-chave normalmente existe há algum tempo na economia antes do desenvolvimento do PTE a que darão suporte. Entretanto, seu potencial somente torna-se reconhecido e capaz de atender às características acima quando os fatores-chave do PTE vigente e todo o conjunto de aplicações relacionadas dão claros sinais de esgotamento da capacidade de sustentar o incremento da produtividade, o crescimento econômico e o retorno dos investimentos. O desenvolvimento de um novo PTE é, então, impulsionado por um movimento econômico e social que busca superar os limites de crescimento impostos pelo modelo vigente, inaugurar novas frentes de expansão e sustentar a lucratividade e a produtividade. Nesse sentido, o PTE pode ser considerado como o resultado dos avanços científicos e tecnológicos e das pressões competitivas e sociais persistentes (FREEMAN; PEREZ, 1988: 49 e 58).

Na mudança de um paradigma a outro, ocorre a inauguração de uma nova era tecno-econômica cujos impactos estendem-se por toda a economia através de inúmeros fenômenos (FREMMAN; PEREZ, 1988: 59; LASTRES; FERRAZ, 1999: 32):

nascimento de setores, atividades e produtos;

novas formas de gerar e transmitir conhecimentos e inovações;

novas formas de produção e comercialização de bens e serviços;

novas formas de definir e implementar estratégias e políticas;

formas originais de organizar e operar empresas e outros tipos de instituições;

exigência de novas capacitações institucionais e profissionais;

necessidade de novos mecanismos de mensuração, regulagem e promoção das atividades econômicas;

intensificação de inovações visando a ampliar o uso dos fatores-chave;

novos padrões de investimento e de distribuição internacional dos investimentos;

alteração da estrutura internacional de vantagens comparativas de custos;

novo ciclo de investimentos em infra-estrutura para ampliar a utilização dos fatores-chave pela economia como um todo;

surgimento de inúmeros pequenos empreendimentos inovadores visando a aproveitar as novas oportunidades de investimentos;

novos padrões de consumo de bens e serviços, distribuição e comportamento do consumidor.

Dentro desse arcabouço teórico, a chamada Era da Informação constitui-se na ascensão e consolidação do Paradigma Tecno-Econômico das Tecnologias da Informação – PTE/TIs. Analisando esse paradigma sob as condições descritas acima, tem-se que ele é baseado em um conjunto de inovações interligadas, relacionadas a computadores eletrônicos, engenharia de software, sistemas de controle, circuitos integrados e telecomunicações, que reduziram de maneira drástica os custos de obtenção, armazenagem, processamento, comunicação e disseminação de informação por toda a economia. O fator tecnológico chave do PTE/TIs é o microprocessador, que possui as características mencionadas anteriormente – amplas possibilidades de aplicação, demanda e capacidade técnica crescentes e custos decrescentes. Nesse aspecto, o PTE/TIs pode ser considerado como a maneira que o sistema capitalista encontrou para superar o esgotamento de um padrão de acumulação fundado na produção em larga escala de cunho fordista (LASTRES; FERRAZ, 1999: 33 e 36; DANTAS, 1999: 246). O Quadro 2 resume as principais características dos diversos PTEs identificados na literatura, referentes ao período de nascimento e evolução do modo de produção capitalista.

A origem das transformações por que passam as empresas em todo o mundo está na aplicação do potencial das TIs às atividades econômicas. Esta aplicação possibilitou a superação de grandes obstáculos ao crescimento, à produtividade e à lucratividade que a sociedade industrial e a produção em massa de cunho fordista impuseram em sua rota de desenvolvimento. Também permitiu: i) diminuição de tempos mortos em processos produtivos e logísticos; ii) controle e gerenciamento dos fluxos informacionais desses processos; iii) aumento da variedade de insumos e produtos; e iv) maior flexibilidade em relação aos rígidos processos de cunho fordista. Segundo Castells (I, 2000: 78), uma das principais características do novo PTE/TIs é a sua capacidade de reconfiguração de estruturas e processos, aspecto este de importância decisiva em uma sociedade caracterizada por constantes mudanças e pela fluidez organizacional. Desse modo, o novo paradigma tecno-econômico tornou possível inverter as regras sem destruir a organização, uma vez que sua base material pode ser reprogramada e reaparelhada.

 

Fase Primeiro Segundo Terceiro Quarto Quinto
Início e término 1770/80 a 1830/40 1830/40 a 1880/90 1880/90 a 1920/30 1920/30 a 1970/80 1970/80 em diante
Descrição Mecanização Força a vapor e ferrovia Energia elétrica, engenh. pesada Produção em massa (fordismo) Tecnologias da informação
Fator-chave Algodão e ferro fundido Carvão e transporte Aço Petróleo e derivados Microeletrônica, tecnologia digital
Setores alavancadores do crescimento Têxteis e equipamentos, fundição, ener-gia hidráulica Máquinas e navios a vapor, máquinas ferra-menta, equipa-mentos ferrovi-ários Engenharia e equipamentos elétricos, enge-nharia e equipa-mentos pesados Automóveis e caminhões, trato-res e tanques, ind. aeroespacial, bens duráveis e petroquímicos Equipamentos de informática e telecomunicações, robótica, serviços info- intensivos e softwares
Setores em crescimento rápido Máquinas a vapor Aço, eletrici-dade, gás, coran-tes sintéticos e engenharia pesada Indústria auto-mobilística e aeroespacial, rádio e teleco-municações, metais leves, bens duráveis, petróleo e plásticos Fármacos, ener-gia nuclear, microeletrônica e telecomunicações Biotecnologia, nanotecnologia e atividades espaciais
Fonte: resumido e adaptado de Lastres e Ferraz (1999: 34); Freeman e Perez (1988: 50-7).
Quadro 2 – Principais características dos sucessivos Paradigmas Tecno-Econômicos

 Esse processo é por demais rico e variegado. Antes de prosseguir na busca da compreensão dos desdobramentos do PTE/TIs nas organizações, convém fazer um breve comentário visando a deixar claro o relacionamento entre alguns aspectos apresentados até agora.

Como mencionado anteriormente, a importância da informação para os diversos modos de produção existentes na história sempre foi grande. No modo de produção capitalista a informação ganhou papel ainda mais relevante, dada a sua condição primeira de processo social, bem como a extensão e profundidade que alcançou em nível mundial. É impensável um capitalismo sem significativos fluxos informacionais paralelos aos produtivos e logísticos, mesmo em seus primórdios.

Alguns dos principais obstáculos com que o sistema fordista de produção se deparou – como rigidez e elevados tempos mortos nos processos produtivos e logísticos e baixa variedade de insumos e produtos, que a certa altura tornaram-se fatores inibidores de produtividade, rentabilidade e competitividade – em grande parte eram originados por deficiências nos processos informacionais. Estas, por sua vez, eram ocasionadas por custos excessivos para o desenvolvimento e operação de sistemas de informações que atendessem a todas as demandas com a qualidade e a rapidez necessárias. Ou seja, o potencial da informação como fator de melhoria e alavancagem dos negócios já era conhecido antes do advento das TIs.

Nesse contexto, e num primeiro momento, pode-se considerar que tais tecnologias, em sua fase inicial, permitiram a viabilização do potencial da informação no ambiente de negócios, de modo a que o modelo fordista superasse suas restrições inerentes, mas sem romper com sua essência enquanto um formato particular de processo produtivo. Isto quer dizer que, neste estágio, as TIs constituíram-se em ferramentas de trabalho mais sofisticadas e mais ágeis, que automatizaram e aumentaram a velocidade de processos organizacionais que existiam havia décadas, desde que Taylor e Fayol os configuraram dentro de padrões mais racionais e eficientes (PORTER; MILLAR, 1997: 70; CASTELLS, I, 2000: 51). Nesse momento, a contribuição das TIs foi em certa medida marginal ao sistema como um todo, de tal modo que, nesse aspecto, as mudanças ocorridas poderiam ser classificadas muito mais como mudanças de ordem quantitativa do que qualitativa, em termos do modo de produção capitalista.

Explorando um pouco mais os impactos das TIs no ambiente de negócios, temos que, pela maneira como se deram sua configuração e seu desdobramento tecnológico, além de sua extensão e penetração social, elas permitiram uma ampliação do potencial da informação em moldes antes não considerados, o que expandiu o impacto das mudanças no ambiente de negócios, tornando-as muito mais qualitativas do que quantitativas. Castells (I, 2000: 51) identifica dois outros estágios (além do da automação descrito acima) nos usos das tecnologias de informação: i) experiências de uso das novas tecnologias e ii) reconfiguração de aplicações. Nos dois primeiros estágios, o processo de inovação ocorreu basicamente pelo "uso" das novas tecnologias. Já no terceiro a inovação se deu como processo de aprendizado pela própria construção da tecnologia, o que acabou resultando na reconfiguração das redes e na descoberta de novas aplicações. Os impactos destas fases tornaram-se cada vez mais profundos e amplos à medida que se desdobravam e podem ser assim descritos:

i) As TIs permitiram a coleta, processamento e distribuição da informação com tal velocidade e precisão que novos métodos de interpretação e novas formas de uso tornaram-se possíveis, sendo inventadas ou desenvolvidas posteriormente (PORTER; MILLAR, 1997: 70). Exemplo disso é a quantidade enorme de ferramentas estatísticas desenvolvidas em softwares que permitem a realização de trabalhos e simulações antes impossíveis. Ou seja, além de aumentar a qualidade e a velocidade das informações que já eram utilizadas antes do advento das TIs, estas permitiram a implementação de outras formas e processos informacionais não previstos ou imaginados antes;

ii) As enormes possibilidades de tratamento dos processos informacionais permitidas pelas TIs levaram à indagação acerca dos próprios processos de negócios existentes nas empresas, permitindo um profundo questionamento da maneira de estruturá-los e operá-los. As TIs permitiram que estes processos – antes organizados com base nos limites impostos pela capacidade humana e técnica de trabalhar informações e baseados em estruturas funcionais oriundas da divisão do trabalho – fossem redesenhados com base em novos parâmetros e possibilidades, ocasionando o desaparecimento de processos de negócios tradicionais e permitindo o surgimento de outros, mais compactos e complexos (PORTER; MILLAR, 1997:70);

iii) O aumento da capacidade de geração, processamento e distribuição de informações nos processos organizacionais permitida pelas TIs, aliada à possibilidade de drástica redução dos investimentos em ativos fixos e pessoal, aumentou a complexidade desses processos, entendida como o aumento do número de variáveis manipuladas por eles, pelas novas competências exigidas das pessoas que neles atuam e pelo reduzido número de pessoas que os operam (VALLE, 1996);

iv) As próprias TIs passaram a fazer parte dos processos produtivos e logísticos como componentes dos ativos tangíveis utilizados. Os computadores e demais equipamentos das TIs foram incorporados e substituíram os utilizados anteriormente, passando eles mesmos a fazer parte dos processos (e não somente atuando como elementos intermediadores entre seres humanos e máquinas produtivas) na coleta, manipulação e fornecimento de informações (PORTER; MILLAR, 1997: 68);

v) As TIs passaram a fazer parte também dos processos de controles operacionais e organizacionais. Ou seja, ao invés de apenas servir como intermediários entre as pessoas e os processos fornecendo informações, passaram elas próprias a fazer os controles dos processos, determinando ritmos, planos e afins. Uma das conseqüências diretas disso foi o aumento da flexibilidade e da capacidade de controle desses processos (PASSOS, 1999: 62; VALLE, 1996). Os exemplos são os sistemas de CAM (Computer Aided Manufacturing ou Manufatura Assistida por Computador), FMS (Flexible Manufacturing Systems ou Sistemas Flexíveis de Manufatura), CIM (Computer Integrated Manufacturing ou Manufatura Integrada por Computador) e SCM (Supply Chain Management ou Gestão da Cadeia de Suprimentos);

vi) As TIs permitiram a ampliação do potencial da informação não apenas nas aplicações internas das empresas, mas também, e principalmente, para novas aplicações destinadas ao gerenciamento das variáveis do ambiente externo, mais volátil e desestruturado, e para a integração entre as aplicações internas e externas (PORTER; MILLAR, 1997: 70; VALLE, 1996). Nesse sentido, o acesso a grandes quantidades de informações do ambiente externo teve impacto significativo na maneira de as empresas definirem e implementarem suas estratégias, bem como na maneira de administrarem as informações internas, exigindo novas formas de elaboração e definição de estratégias, políticas, objetivos e metas;

vii) As TIs permitiram, ainda, a integração e interação entre empresas distintas (CASH; KONSYNSKI, 1997: 97), gerando novas formas de compreender a dinâmica dos negócios e novos padrões de relacionamento entre organizações, uma vez que concorrentes tornaram-se parceiros e organizações de segmentos diversificados tornaram-se sinérgicas e com interesses mútuos;

viii) Um dos mais fortes desdobramentos dos processos informacionais com auxílio das TIs foi a possibilidade de desenvolvimento de processos voltados ao tratamento do conhecimento nas empresas, potencializando as possibilidades de inovação e aprimoramento da competitividade (DAVENPORT; PRUSAK, 1998: 149-72);

ix) Esse conjunto de transformações nos negócios também trouxe como conseqüência mudanças fundamentais nas formas de gestão e organização das empresas. Com isso, gerou maior flexibilidade das estruturas organizacionais, maior integração entre suas diversas áreas e funções e novas formas de gestão e organização das pessoas no ambiente de trabalho, que se ampliou e rompeu a barreira física dos escritórios e fábricas.

5. Conclusões

A profundidade e abrangência das atuais transformações que caracterizam a chamada Era da Informação não deixam dúvida sobre a necessidade de uma visão teórica plural sobre suas origens e desdobramentos, se se deseja uma compreensão adequada destas transformações. Este ensaio procurou desenvolver esta compreensão baseada em três momentos.

No primeiro momento, recorreu-se à teoria de Marx para compreender de que modo estas transformações estão inseridas no modo de produção capitalista. Duas análises foram julgadas relevantes para esta compreensão. O primeiro ponto destacado foi que, em sua minuciosa análise do processo capitalista de produção, Marx foi pioneiro na identificação da existência e da distinção entre os fluxos físicos e informacionais existentes neste processo:

Além da compra e venda efetivas, gasta-se tempo de trabalho na contabilidade, em que, além disso, entra trabalho objetivado: caneta, tinta, papel, escrivaninha, custos de escritório. (...) Como unidade dentro de seus ciclos, como valor em processo, seja dentro da esfera da produção, seja dentro das duas fases da esfera da circulação, o capital só existe idealmente na figura da moeda de conta, inicialmente na cabeça do produtor de mercadorias, respectivamente, o produtor capitalista de mercadorias. Por meio da contabilidade, que também compreende a determinação ou o cálculo dos preços das mercadorias (cálculo de preço), esse movimento é fixado e controlado. O movimento da produção, e sobretudo o da valorização, (...) recebe assim uma imagem simbólica na representação. (...) A contabilidade como controle e síntese ideal do processo torna-se tanto mais necessária quanto mais o processo transcorre em escala social e perde seu caráter puramente individual; é, portanto, mais necessária na produção capitalista do que na produção dispersa do empreendimento artesão e camponês (MARX, II, 1984: 98-9).

Embora Marx tenha identificado a importância da informação no processo capitalista e tenha inclusive percebido a indústria das comunicações como já economicamente importante em sua época (MARX, I/2, 1984: 42), sua atenção não passou disto, uma vez que este tópico não recebeu desenvolvimento posterior em seus trabalhos – o que é compreensível em face do momento histórico que ele vivia.

A segunda contribuição ocorre pela compreensão que Marx ofereceu sobre a interação entre o homem e os instrumentos de trabalho e o modo como isso se deu em termos sociais. Marx demonstrou o processo através do qual a força física e as habilidades humanas de supervisão e organização foram sendo progressivamente transferidas para o processo, a tecnologia e a organização capitalista. Em sua época, o economista alemão não conseguiu vislumbrar a existência de uma máquina que tivesse a capacidade de substituir algumas atividades da inteligência humana abstrata no processo e organização capitalistas, o que acabou ocorrendo com o advento do microship e do computador eletrônico. Esta trajetória, cujo início é apanhado por Marx, foi resgatada por Lojkine (1995), que atualizou e contextualizou a análise frente ao desenvolvimento das TIs.

No segundo momento da análise das atuais transformações, procurou-se resgatar as origens histórica e filosófica da atual importância da informação e destacou-se o papel social que possui atualmente, como representação simbólica, bem como o processo de manipulação ideológica a que está sujeita.

Fica evidente, neste aspecto, a forte imbricação entre a filosofia, a ciência e o capitalismo. Originário de um projeto filosófico de elevar o bem-estar humano através do domínio da natureza pela Ciência, o Iluminismo foi pródigo em fornecer as bases filosóficas e científicas ao desenvolvimento capitalista, na crença de que este desenvolvimento saciaria todos os desejos e necessidades humanas (GIANNETTI, 2002: 39). Desse modo, lançou-se a base para a apropriação da Ciência pelo capitalismo, fazendo com que aquela revestisse um caráter ideológico e, em essência, mais contribuísse para o desenvolvimento da acumulação capitalista do que para o crescimento do bem-estar geral da humanidade. Neste processo, o capitalismo apropriou-se, e continua a fazê-lo, de todos os elementos sociais, culturais e tecnológicos disponíveis para aprofundar a acumulação e a concentração de riqueza. Cabe ressaltar que isso inclui, em seu estágio atual, todos os processos de concepção, geração, manipulação, distribuição e destruição da informação, quer em seus aspectos práticos e concretos, quer em seus aspectos teóricos e simbólicos, como representação cultural, ideológica e de poder.

Ressaltou-se neste segundo momento, entretanto, um outro aspecto em termos da dinâmica social. Embora a base econômica ainda tenha papel relevante na determinação das relações sociais atuais dentro de uma estrutura de classes e a ideologia esteja presente no controle destas relações, as bases da sociedade da informação acrescentam elementos novos e surpreendentes em termos das possibilidades de re-configurações destas relações em direções ainda desconhecidas, colocando em cheque todo tipo de determinismo que procura conduzir o movimento social em uma única direção. Nas palavras de Krippendorff,

What we do not yet know is whether the emerging information society with its tremendous increase in the human-societal potential to determine its future and its promise of liberation from the constraints of the past is indeed an expansion of the human mind, its ultimate trap or a mere transitional form (1993: 519).

Por fim, o terceiro momento de compreensão leva a atenção para a questão das transformações de ordem econômica e tecnológica que caracterizam a Era da Informação. Através da lente da escola econômica neo-schumpeteriana, o estágio atual de desenvolvimento capitalista é compreendido como um processo de evolução de uma série de combinações de fatores econômicos, sociais e tecnológicos que estão permitindo o surgimento e a expansão de um novo ciclo de crescimento capitalista baseado nas chamadas Tecnologias da Informação - TIs. Essa série de novas combinações adquire um formato específico denominado Paradigma Tecno-Econômico das Tecnologias da Informação – PTE/TIs. Deste modo, as TIs estão permitindo o rompimento dos limites de crescimento impostos pelo PTE anterior, ao gerar condições para a expansão dos negócios atuais e criação de novos. Neste sentido, tanto a informação quanto as TIs passaram a ter um papel central como alavancas de um novo estágio de crescimento econômico.

Dentro dos objetivos deste ensaio, estes três momentos de compreensão das atuais transformações permitem que se contextualize a importância da informação para as organizações da seguinte forma:

A informação sempre teve um papel importante no modo de produção capitalista. Como o desenvolvimento tecnológico destinou-se inicialmente aos componentes físicos do processo de produção capitalista, começou a haver um descompasso entre a eficiência dos processos físicos e a dos informacionais, o que levou a uma limitação da capacidade de crescimento das empresas e do sistema global. Assim, o desenvolvimento das TIs permitiu que a ineficiência dos fluxos de informação deixasse de ser fator restritivo à expansão das empresas e da economia. Este aumento da eficiência dos processos informacionais ocorreu tanto no que se refere às informações do e sobre o próprio processo como também, mesmo de modo parcial, nas informações e decisões geradas pelos seres humanos que os supervisionavam e controlavam.

Por outro lado, de acordo com antecedentes filosóficos e históricos, a informação, aliada à crescente capacidade técnica de sua manipulação, ganhou uma relevância social sem precedentes, o que a tornou objeto de apropriação pelas organizações capitalistas. Ao ser incorporada pelo capitalismo, a informação adquiriu não só a característica de mercadoria, isto é, de objeto de geração de mais-valia, mas ganhou ainda uma importância fundamental na própria sustentação do capitalismo, na medida em que seu controle permite não só satisfazer necessidades existentes, como também criar e manipular novas, em benefício das próprias organizações. Por fim, os meios técnicos que permitem a criação, manipulação, distribuição e destruição da informação – isto é, as Tecnologias da Informação – tornaram-se eles mesmos insumos e produtos de interesse econômico, expandindo, criando e destruindo segmentos econômicos inteiros e imprimindo uma nova dinâmica de expansão na economia capitalista.

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Técnica Administrativa, Buenos Aires
ISSN 1666-1680

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Volumen: 05
Número: 28
octubre/diciembre 2006

Recibido el: 13/05/20006; Aprobado el: 01/06/2006